domingo, 19 de julho de 2009

Extômago

Hoje de manhã, te vi
Refletido na água da privada
Você me olhava e disse
Por favor, não dê descarga
Já bastou me vomitar

Acontece que já foi o tempo
Que por você eu tudo engolia
Agora só posso botar pra fora
Pois meu amor você não merecia

Já era, já foi pro esgoto
Até jamais
Foi ruim enquanto durou
Já era, já foi pro esgoto
Até jamais
Foi ruim enquanto durou
E aquela indigestão passou

Agora devo confessar
Que o meu estômago já posso ouvir roncar
Ainda essa noite, vou sair pra passear
Com umas amigas, mas também vou procurar
Alguém que possa me alimentar
Novos sabores para experimentar
Mas dessa vez eu vou tomar cuidado
Pra não levar outro produto estragado

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Como a chuva

(Canção composta a partir da peça "Talk to me like the rain and let me listen" de Tennessee Williams)

Chegou da orgia
Num triste dia
Tava sumido
Não se explicou
Deitou na cama
Puxou um ronco
E ela, paciente
Esperou

O despertar do seu amor
Já se esqueceu como é amar
Por mais três dias ele dormiu
Por mais três dias ela observou
Não levantou, não se mexeu
Não fez barulho, não o acordou

Amarrotado
Todo babado
O homem dela
Se espreguiçou
Com a voz rouca
Pergunta a hora
Ela não sabe
O tempo parou

Ao longe toca um bandolim
Lá fora a nuvem chora
Do emprego dele só sobrou um cheque
Que ele não lembra nem se descontou
Não encontrou, bebeu, perdeu
Não sabe o que fez, mas nada sobrou

Ele e ela
Ela e ele
Como aí foram parar
A esperança e a felicidade
Devem estar no mesmo lugar
Eles não sabem onde está

Ainda confuso
Força a memória
A trajetória
Que o desgraçou
Tava pelado
Todo gelado
Numa banheira
Quando acordou

Num quarto de um estranho hotel
Seu corpo inteiro reclama
Era comida para todo lado
Roupas jogadas, tudo espalhado
Soutiens, calcinhas, meias
Vidro quebrado, móveis derrubados

Sente ciúmes
Mas nada fala
Só vai guardando
O que a magoou
Se aproximam
E pelo toque
Despertam o que
Antes os juntou

Começa ele a divagar
Que ainda podem se entender
Enquanto ela estava abandonada
Não comeu nada, apenas bebeu água
Era o que tinha, o que restou
E ele, chocado, forte a abraçou

Ele e ela
Ela e ele
Como aí foram parar
A esperança e a felicidade
Devem estar no mesmo lugar
Eles não sabem onde está

Pede, implora, para agora ela falar
Despejar como a chuva a ladainha do seu penar
Pede, implora, para com ele ela falar
Despejar como a chuva seja o que for que esteja a pensar

E ela quer é ir embora
Um nome falso adotar
Numa pensão no interior
Não ter com o que se preocupar
Uma velhinha arrumadeira
A sua cama arrumará
Toda semana chegará um cheque
Em quem possa confiar

E o seu quarto será sempre fresco
As suas roupas serão sempre limpas
A sua vida uma praia deserta
Sem conhecidos para a perturbar
Dias e dias só ouvindo a chuva
A sua pele não terá mais rugas
Nem os seus olhos serão inflamados
Sozinha e lendo se distrairá

O tempo vai passar e ela nem vai perceber
Só irá notar o seu cabelo a embranquecer
Do mundo retirada, imaginários amigos terá
Cada vez mais leve e magra, quase irreal irá ficar
Quando chegar nesse ponto ela não mais vai se lembrar
Das pessoas que conhecia antes de se retirar
Com elas vai sumir a sensação de esperar
Por alguém que não se sabe se um dia vai voltar
E então chegará a hora de sair pra passear
Com seu corpo diminuindo até sumir e o vento carregar

Pede, implora, para a cama ela voltar
Desistir do devaneio de não mais com ele ficar
Pede, implora, para na cama ela deitar
Desistir do devaneio de ir morar em outro lugar

Ele a solta, ela soluça
Senta na cama, ele suspira
Aos poucos os soluços morrem
E ela o chama pra deitar

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Dela pra ele

Ficou pra trás
Não quero mais
Sequer lembrar
Que existiu
Cortou, sangrou
Cicatrizou
Marcou, se foi
Traumatizou

Será que foi um erro atroz
Será que existiu um "nós"
Ou tudo não passou de um sonho
Pesadelo real
Que tanto me fez mal
Ou tudo não passou de um sonho
Pesadelo real
Que tanto me fez mal

Ficou pra trás
Não quero mais
Sequer lembrar
Que existiu
Usou, iludiu
Manipulou
Vacilou, traiu
Desperdiçou

Será que foi um erro atroz
Será que existiu um "nós"
Ou tudo não passou de um sonho
Pesadelo real
Que tanto me fez mal
Ou tudo não passou de um sonho
Pesadelo real
Que tanto me fez mal

Ô, vida!

Onde está o meu direito de ir e vir?
Se eu só posso ir daqui até ali
Só a distância que minha perna aguentar
Pois a passagem não tenho como pagar

Sou brasileira e dou duro o dia inteiro
Mas meu salário acaba no dia primeiro
Vou do trabalho pra casa, vou do meu lar pro emprego
Só saio mesmo pra sessão de descarrego
E o lazer? Como fica?
Só sobra a televisão
Vejo novela, goste dela ou não

Onde está o meu direito de ir e vir?
Se eu só posso ir daqui até ali
Só a distância que minha perna aguentar
Pois a passagem não tenho como pagar

Sou brasileira, sou do Rio de Janeiro
Viajo apenas através do travesseiro
Acordo cedo, madrugo
Vou dormir tarde, não nego
Tento dormir, mas meus filhos não dão sossego
E o lazer? Como fica?
Só sobra a televisão
Vejo novela, goste dela ou não
Por falta de opção
Não tenho condição
De ir ao teatro não

sexta-feira, 10 de abril de 2009

OVO

Olhar-se no espelho
É ver a ilusão
É ver-se no espelho
Pensar que se vê

Aquele que olha
Quem disse que é?
Talvez semi-seja
Como outro qualquer

Que apenas pressente
Que o real é irreal
Procura e não acha
A imagem que sente

O que é refletido
É também invertido
Relido, distorcido, manipulado, não existe
Assim como o sujeito que chamam: o "eu"

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Cinzas

O carnaval mal começou
Mas aqui dentro
A quarta-feira é de cinzas

Hoje chorei por um amor
Que abandonei
Hoje chorei por uma dor
Que eu mesma causei
Não tive a intenção
De partir seu coração
Mas o passado revelou
Que no presente acabou

Acabou o carnaval
Mas, afinal, tudo mudou
O nosso amor de fênix
renasceu na quarta-feira
E o choro passou

Reticências

Pararararararirarira Pararararararirarira
Pararararararirarira Pararararararirarira

Primeiro ele conheceu-me
Mas pra mim nem existia
De longe me observava
E eu nem percebia
Um dia mandou uma mensagem
Fez contato enfim
Mesmo sabendo de onde ele era
Ainda era um estranho pra mim
Até que eu levei um bolo
De um antigo conhecido
E para meu consolo
Saí pra jogar com o desconhecido

Ai, que saudade que eu tenho do...
Ai, que saudade que eu tenho
Quando me pega e me leva pro céu
Ai, que saudade que eu tenho

Depois do primeiro encontro
Não sabia se queria
Mas era seu aniversário
Ele merecia
Pra minha grande alegria
Não me arrependi
Logo em seguida, no meu aniversário
Ele foi um presente pra mim
Ele era sempre carinhoso
Do tipo decidido
Foi ficando perigoso
Mas, quem disse que eu corro do perigo?

Ai, que saudade que eu tenho do...
Ai, que saudade que eu tenho
Quando me pega e me leva pro céu
Ai, que saudade que eu tenho

O tempo foi passando
Ganhei a sua amizade
Sempre conselhos preciosos
Mas ficou saudade
O músico foi se afastando
Da pequena atriz
Nem nos meus sonhos me visitou mais
Isso foi muito triste pra mim
Mas a vida continua
A gente ganha, a gente perde
Agora é cada um na sua
Pensar e cantar ninguém me impede

Ai, que saudade que eu tenho do...
Ai, que saudade que eu tenho
Quando me pega e me leva pro céu
Ai, que saudade que eu tenho
Ai, que saudade que eu tenho do...